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12 de janeiro de 2005

POLAROID: METRO

Sempre achei que as estações da linha do Oriente, dita "linha vermelha", eram estranhas — quase todas de tamanho monumental (cf. Olaias) e desproporcionadas à pouca utilização que sempre lhes vi, sem dúvida relacionada com a sua vocação de ramal quase suburbano e desconexo do grosso da rede (com a Alameda como única ligação, pelo menos até à concretização da extensão que a fará cruzar a "linha amarela" no Saldanha e a "linha azul" em S. Sebastião). A música das estações vai da muzak de flauta de pan a "Music" de Madonna.

Hoje, faço o percurso em "hora de ponta" matinal, acompanhando a "daily commute" de muita gente. Entre Oriente e Alameda, quase ninguém sai; a composição está já cheia quando parte do Oriente, vai apanhando alguns (mas não muitos) passageiros ao longo da linha, sobretudo em Olivais e Chelas (em Cabo Ruivo, espécie de desterro no meio de parques industriais, ninguém entra). Apesar de cheia, a carruagem vai silenciosa; toda a gente está a ler o novo jornal gratuito que começou agora a ser distribuido nas estações, e para além do ruído do comboio a percorrer os carris apenas se ouve a voz pré-gravada que anuncia regularmente a próxima paragem e o volume demasiado alto dos auscultadores de um jovem sentado no banco do lado.

À saída na Alameda, o fluir da gente engarrafa temporariamente na escada rolante que dá acesso ao corredor de ligação com o cais da "linha verde" que se dirige para o Cais do Sodré ou para Telheiras. Por entre o mar de gente agasalhada em camisolas e cachecóis multicores distingue-se um militar de casaco de cabedal verde, boina castanha e óculos escuros que transporta um saco ao ombro e duas malas leves nas mãos, as cores desmaiadas da farda realçadas pelas cores primárias que o rodeiam.

Contrasta com o adolescente que entra na Cidade Universitária com destino ao Marquês de Pombal, de cabelo negro com gel e madeixas alouradas no alto do cabelo, pêra minimal cuidadosamente recortada, barba feita para parecer desleixada, um ninho de borbulhas vermelhas na testa, vestindo uma camisola de futebol com as cores e o logótipo do Barcelona por cima de uma sweat-shirt verde-tropa largueirona e calças de ganga de cintura larga e pernas boca de sino, em azul-escuro forte e novo com costuras brancas visíveis, com ténis e mochila de marca. A incongruência da indumentária apenas se deve ao contraste com os casacos quentes, sobretudos de lã e agasalhos forrados que o rodeiam; ele não parece ter frio, mas a moda não se compadece com os seis graus centígrados que os termómetros espalhados por Lisboa anunciam.

Alguém que entra em Entre Campos traz consigo um cheiro intenso a tabaco.

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