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23 de janeiro de 2005

POLAROID: HCL

As horas das visitas dos hospitais aos dias de semana parecem ser sempre populadas pelo mesmo tipo de pessoas: mulheres de meia-idade, sozinhas ou acompanhadas por outras como elas, de cabelo grisalho ou branco, óculos claros ou tintados, sacos de plástico na mão e mala a tiracolo, prontas a conversar com o primeiro que apareça sobre o atraso da visita, as doenças da vizinha, o motivo porque ali está, o motivo porque ali estamos. Arrastam consigo um cheiro bafiento de vidas tristes e rotineiras, de futuro que nunca aconteceu, uma amargura surda de quem nunca concretizou aquilo que sonhou em nova e, resignada à mediocridade (sub-)urbana em que se acomodou, se delicia com os escândalos e coscuvilhices das revistas de televisão e sociedade e não consegue imaginar a existência de coisas mais importantes.

Mas é verdade que o ambiente dos hospitais, por mais asseado, asséptico, neutro, iluminado que possa ser, predispõe ao tipo de lamentos resignados e cinzentos em que os portugueses são pródigos. O "cá estamos", o "é assim", o "é só chatices" e outro tipo de interjeições que não dizem rigorosamente nada mas são entendidas pelos conversantes como se fossem verdades universai, como se contivessem em si um qualquer segredo que só eles partilham. Uma espécie de vírus da resignação negativista, que proclama como única certeza a morte anunciada e o vale de lágrimas em que a vida se gasta até lá, e a futilidade de procurar lutar contra tão negro e fatalista destino.

Portugal no seu melhor, em suma: velho, gasto, claustrofóbico, sufocante, cinzento, resignado, incapaz de se erguer do lamaçal em que voluntariamente se deixa prender.

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