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9 de janeiro de 2005

LOGBOOK #21: O ELOGIO DA LOUCURA

Sesimbra: Baía da Armação, domingo 9 de Janeiro, 10h58: 11.7m, 57min, 13º C

Eu devo é ser maluco, penso para com os meus botões às 7h30 da manhã quando o alarme dispara ao som da TSF e ouço o jornalista de serviço falar da "forte ondulação" que levou ao fecho de barras acima do Cabo Carvoeiro, quando me meto debaixo do chuveiro e saio dele sem conseguir realmente aquecer, quando tomo o pequeno-almoço e me meto no carro com 6º C de temperatura ambiente para ir visitar os peixinhos ao largo de Sesimbra após três meses de ausência causada por uma combinação de trabalho, inércia e cansaço.

Eu devo é ser maluco, penso quando, animado pelo sol radioso e pelo azul forte do céu de inverno, atravesso a ponte 25 de Abril e dou com um espessíssimo banco de nevoeiro que me acompanha desde que passo a praça da portagem até Cotovia, mesmo à beirinha de Sesimbra. Quando chego, está tudo normal, o mar está bom para sair, mesmo que um pouco agitado, não há muita gente (como é normal aos domingos).

Eu devo é ser maluco, penso quando a curta viagem de barco até à Baía da Armação é feita com vento cortante e alguma onda pequena mas insistente que nos atira com água para cima — a mim e aos outros seis malucos que se lembraram de vir mergulhar neste domingo frio de Janeiro.

Mas não sou nada maluco — abaixo da superfície a agitação do mar desaparece, e a proximidade da costa rochosa enche o local de vida, cardumes enormes que passeiam despreocupadamente. Eu e o meu parceiro José — um rapaz atlético que parece ter pouco mais de 20 anos, que tem chapas militares ao pescoço e que está perfeitamente à vontade dentro de água — andamos por ali, a lanterna pesquisando cada recanto rochoso, cada cavidade onde se possam esconder animais, e somos recompensados por um enorme polvo que se esconde pachorrentamente e que, incomodado pela luz da minha lanterna, se retira para o mais dentro da rocha que pode, por vários peixes-pedra em posição de descanso, uma estrela do mar escura que se arrasta como quem não quer a coisa, uma serpentezinha de focinho cavalar em tons de verde e alga. Fotografamos: ele com uma digital devidamente protegida por uma caixa estanque, eu com uma descartável analógica estanque até 15 metros que trouxe por brincadeira para ver se vale a pena começar a pensar a sério na fotografia subaquática (calha bem, nunca desço abaixo dos 12 neste mergulho soft de reabituação).

Eu devo mesmo ser maluco, penso quando começo a sentir frio dos 13º C que o computador marca mas que não devem de todo ser, face ao frio que começo a rapar já perto do final da hora de mergulho, é capaz de não ser má ideia começar a pensar num semi-seco em vez de um húmido de duas peças (mesmo que de 7mm).

Não sou nada maluco, penso eu quando chego a casa e me retempero com uma sopinha quente enquanto penso na excelente manhã que passei ao largo de Sesimbra e na vontade que já tenho de a repetir. Três meses sem ir ao mar? Eu devo é ser maluco.

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