(descendo a rua do Salitre, em direcção à avenida da Liberdade)
Um Peugeot 206 cinzento desce a rua estreita a toda a velocidade, seguido por um Mercedes branco ferrugento, daqueles modelos antigos, que buzina e parece estar a forçar a velocidade. Viram à esquerda para a rua Castilho e páram logo a seguir, no meio da rua, para trocar condutores.
(esquina da avenida da Liberdade com a praça da Alegria, junto à agência dos Wagons-Lits)
Três senhoras trintonas/quarentonas, gordas, com ar de quem apregoa víveres no mercado, descem calmamente a avenida, ocupando o passeio quase todo. Tento ultrapassá-las antes do poste, mas uma delas escolhe o momento para baixar o braço esquerdo, com o cigarro aceso quase a apagar, por um triz que não me queima as calças. A senhora pede desculpa. Continuam a conversa, "fiquei num hotel aqui perto da primeira vez que vim a Lisboa com a minha mãe", diz uma, de voz rouca. O sinal à nossa frente fica vermelho para os peões, mas isso não impede um homem com ar de emigrante de leste e uma senhora com ar de executiva apressada atravessarem a rua, porque a lateral que vai dar ao parque dos Restauradores está parada e há carros a impedirem a passagem do trânsito que desce da praça da Alegria. O primeiro carro no sinal é conduzido por uma senhora já de uma certa idade, que buzina desesperadamente como se isso fizesse andar o trânsito mais depressa. Entretanto, aproveitando a confusão, as trintonas/quarentonas fazem como se fossem também elas atravessar a rua, sem verem que se aproxima um carro no sentido oposto, vindo da rua das Pretas, atravessando a avenida para subir à praça da Alegria; o carro pára ao ver as senhoras a fazerem intenção de atravessar, mas uma delas apanha susto porque tinha estado a olhar para o outro lado.
(estação de correio dos Restauradores)
A estação está de cara lavada. Esteve fechada uns tempos para obras mas o novo plano é confuso, com uma zona à entrada para "serviços rápidos" que tem fila e mais gente para atender do que a zona de atendimento propriamente dita. Tento tirar senha mas a máquina está fora de serviço, o que não impede as empregadas, vestidas de vermelho, de carregarem desesperadamente nos seus computadores a chamar senhas que não são atendidas. Digo a uma das duas balconistas a atender nesta tarde fria de sábado que a máquina não está a dar senhas; a senhora, com aspecto de empregada de perfumaria, muito maquilhada, com o lenço regulamentar atado ao pescoço, faz o seu melhor ar de frete e dirige-se ao interior da estação a informar do sucedido e a pedir que reparem a máquina.
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