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20 de novembro de 2004

O ESTADO DAS COISAS

Esta forma nova — nem se pode mesmo dizer de fascismo, há demasiada distorção — que existe agora é bem pior, porque será bem mais irrevogável. Tudo será aparentemente agradável, as pessoas pensarão viver num país livre, etc. Acho a evolução actual muito mais deprimente, de certa maneira, porque já não se pode verdadeiramente fazer nada contra ela. Já não há grande diferença entre o vizinho da frente e o chanceler federal — é um homem mesquinho e medíocre, exactamente como o meu vizinho. Eles vão ficar cada vez mais parecidos e por isso as coisas vão-se tornar cada vez mais difíceis para nós, aves do paraíso.

É um excerto de uma entrevista dada pelo falecido cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder em 1978. Encontrei-a num artigo de Alain Bergala na edição de Outubro dos Cahiers du Cinéma, artigo esse escrito em forma de carta a um actor que voltou costas ao teatro "institucional" e arranjou emprego como destilador de whisky por recusar o "teatro de massas" que ele considerava ter substituído o "teatro popular" (interessante distinção) hoje em dia.

Mas, cá para mim, a afirmação — que Alain Bergala diz impressioná-lo pela "justeza da profecia, vivemos bem no centro deste futuro que Fassbinder predisse" — é uma radiografia incisiva do estado das coisas. Que, por acaso, também era um filme alemão.

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