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16 de novembro de 2004

O COMBOIO QUE LEVAVA SAUDADES

Passando há pouco no viaduto da avenida da Índia, um comboio em direcção a Lisboa apitou enquanto passava por baixo do viaduto. Um comboio é sempre uma promessa, pensei para mim. Fiz a ligação com um filme que não devo ver há 30 anos, ligeiramente menos, que vi só uma vez, numa daquelas sessões matinais, "manhãs infantis", que alguns cinemas de Lisboa continuaram a fazer durante os anos 70; acho que foi no Apolo 70, ali ao Campo Pequeno, que era então programado (pasme-se) por Lauro António como uma sala de prestígio, o equivalente anos 70 do King, com muita produção de arte e ensaio.

O filme chamava-se, em português, "O Comboio que Levava Saudades" e adoro o título perfeitamente evocativo de uma era que já passou em que a metáfora do título traduzido era uma arte levada a extremos. Lembro-me que era uma produção inglesa que se passava na transição do século XIX para o século XX, misto de Enid Blyton e James Ivory, com três crianças — três irmãos — e as suas aventuras à volta de uma linha de comboio que lhes passa nas traseiras de uma vivenda modesta ("as saudades que eu já tinha da minha alegre casinha tão modesta que ela é") no campo inglês. Anos mais tarde, reencontrei as coordenadas do filme, nas enciclopédias de cinema: um filme inglês de 1970, dirigido por Lionel Jeffries e intitulado no original "The Railway Children", baseado num clássico da literatura infanto-juvenil britânica. Nunca mais voltei a apanhar com esse filme mas hoje, não sei porquê, o comboio que me passou ao lado trouxe-me saudades dele.

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