Pesquisa personalizada

11 de setembro de 2004

READ MY LIPS: NO FREE LUNCH

O ministro Bagão Félix diz, no Telejornal da RTP-1, que trabalhar mais (subentendendo-se pelo mesmo dinheiro) "não é um factor de sacrifício mas sim um factor de esperança". Mas será possível existir esperança sem sacrifício? Ou a afirmação é apenas atirar mais poeira para os olhos de um país iludido com a facilidade com que se concedem créditos a torto e a direito, até para o consumo; apenas sublinhar ainda mais que — ao contrário do que o próprio ministro diz — afinal há sempre alguma coisa que é mesmo grátis? Sonhar, é certo, não custa. Concretizar os sonhos já é mais complicado. Nada que impeça o IKEA de estar cheio num sábado de manhã, com filas assinaláveis nas caixas de saída, carrinhos cheios de móveis e utensílios mais ou menos necessários. A que preço?

Mais à frente, o primeiro-ministro Pedro Santana Lopes exibe a sua magnífica táctica de drible e finta à pergunta do entrevistador, deixando toda a gente exactamente na mesma como antes. A única diferença entre o hoje e o antes é o aspecto claramente mais cansado do homem, como se tivesse percebido que, afinal, há mesmo um preço a pagar pela sua ambição de estatuto. Como quem percebe que ser primeiro-ministro não é exactamente o que ele pensava e não sabe muito bem como sair da camisa de onze varas em que se meteu.

Sem comentários: