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22 de setembro de 2004

O MEU PEQUENO CONTRIBUTO PARA A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO

O meu 12º ano, nos idos de 1985/86 na escola secundária Luísa de Gusmão, na Penha de França, foi talvez o mais estimulante de todos os meus anos lectivos: tinha apenas três cadeiras, de preparação para a minha opção universitária que tinha sido Letras; no caso das línguas estrangeiras, tratava-se de um misto de reciclagem/retrospectiva de conhecimentos e preparação para o ambiente universitário.

Tinha Português, com uma professora extraordinária que me ensinou a gostar de Fernando Pessoa e que detectou em mim um qualquer jeito, um qualquer dom para escrever. Foi uma das professoras que mais me marcou em todo o meu percurso escolar, porque se percebia que ela gostava genuinamente do que fazia, porque estava ali com prazer e garra. Não conseguiu que eu gostasse de Agustina Bessa-Luís. E acabei por ter um 12 no exame final do ano. Não fiquei preocupado, porque o meu curso não incluia o Português, mas fiquei triste, porque gostava de ter tido melhor nota, porque a professora merecia que eu tivesse tirado melhor nota. Aprendi essa lição.

Tinha Francês, com uma professora da "velha guarda", uma senhora idosa com ar de Avenidas Novas, que chegava à aula, sentava-se por trás da secretária e lia do manual e entrava em diálogo connosco a partir do manual. As aulas eram maçadoras e repetitivas e não havia ali nenhuma individualização dos alunos; não era provável que quem já soubesse francês viesse a aprender mais alguma coisa e que quem ainda não soubesse o suficiente conseguisse colmatar as lacunas. Tirei um 18 no exame final, mas não porque a professora tivesse feito alguma coisa para isso.

Tinha Inglês, com uma professora de meia-idade que parecia uma balconista de retrosaria da Baixa a falar inglês, com o pior sotaque inglês que eu achava que existia em Portugal (no que me enganava, quando percebi, mais tarde, no 2º ano da faculdade, que havia professoras universitárias que tinham pior sotaque). A senhora era bem-intencionada e esforçada, mas era dramaticamente desajustada do lugar — eu falava melhor inglês (e com melhor sotaque) do que ela. Para meu grande espanto tirei 20 no exame final, o que me levou a concluir que ou o grau de exigência era muito baixo ou o meu inglês era melhor do que eu achava. Em qualquer dos casos, soube mais tarde que a professora tinha ficado eufórica que um aluno dela tinha tirado um 20 — mesmo que, na prática, ela tivesse tido pouco a ver com a nota.

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