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24 de setembro de 2004

NEVOEIRO

Estava eu ao jantar a conversar sobre insónias com os meus amigos Rui (um verdadeiro expert na matéria) e Paulo e estava longe de adivinhar que, nessa mesma noite, lá ia eu ter a mais monumental insónia de que tenho memória: até às quatro e meia da manhã sem dormir, apenas passando aqui e ali pelas brasas, composta pelo calor opressivo da noite, pelo som de uma melga que insistia em passear displicentemente à volta do quarto (animal irritante), pela ansiedade de não conseguir dormir. Nem o Valdispert da praxe serviu de alívio e só já perto das cinco da manhã consegui finalmente render-me ao sono, para me levantar às oito e meia.

Não conseguir dormir é o pior que me podem fazer. No dia a seguir a não dormir, literalmente, mordo; passo o dia numa espécie de limbo difuso, ao lado do mundo, meio fora meio dentro, a cabeça imersa no nevoeiro que, hoje de manhã, me recebeu ao entrar na Marginal vindo da Cruz Quebrada, um algodão opaco do qual os edifícios e os carros e os sinais emergem lentamente, como se se materializassem vindos do nada.

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