Pesquisa personalizada

4 de setembro de 2004

LOGBOOK #18: DE NOITE TODOS OS PEIXES TÊM COR E TODO O CÉU TEM ESTRELAS

Sesimbra: Pedra do Leão, sábado 4 de Setembro, 20h38: 12.6m, 36min, 16º C

(começo a achar que o meu computador está passado; todos os mergulhos que tenho feito têm a água a 16 graus)


O dia não havia amanhecido especialmente bom — chuva, trovoada, céu carregado. O desafio do mergulho nocturno prometido desde o curso avançado parecia ter de ficar para outro dia — mentira, com o céu a abrir depois de almoço, um telefonema resolveu a questão, ia haver sim senhor, o mar até nem estava nada mau apesar da visibilidade algo difusa. Trepidação e entusiasmo, ia finalmente fazer a experiência de mergulhar ao entardecer, enquadrado pelo Rui Santos, emparceirado com o fiel Vitorino.

Primeira constatação: os focos das lanternas cortam a escuridão numa explosão de cores vivas, desde o alaranjado das rochas pintalgadas de anémonas e incrustações, ao verde de algumas algas e ao prateado incandescente de alguns peixes. Segunda constatação: é muito fácil perder o sentido de direcção quando o raio de visão está limitado aos focos das lanternas, sobretudo quando — como o grupo percebeu quando desceu à baixa profundidade da Pedra do Leão, assim chamada pela forma aproximada de leão em repouso, ao largo da baía de Sesimbra — está mais corrente abaixo da superfície do que à superfície. À saída, toda a gente contava que teve de vir à superfície a meio do mergulho para perceber onde raio estava por relação à pedra. Terceira constatação: em condições menos que ideais, como as desta noite enganadoramente calma e estrelada, a tranquilidade que se pretende numa imersão nocturna é intervalada pela irritação de andar a ser empurrado de um lado para o outro pela corrente e pela estranheza de ter o profundímetro (e as borbulhas que se elevam do regulador em direcção à superfície) como única referência de posicionamento.

Gestão de stress: média mais, apesar da luta contra a corrente acabar por me ter feito gastar mais ar do que me é normal a esta profundidade (subi ainda com 70 bares, mas não cheguei aos 40 minutos), conseguindo manter um bom ritmo de respiração. O controle da flutuabilidade a profundidades intermédias continua a ser objecto de atenção especial. Como primeira experiência, algo decepcionante; a repetir em melhores condições de "temperatura e pressão".

Mas, à superfície, enquanto nadamos de regresso ao barco, ver o céu azul-negro repleto de estrelas brilhantes e luminosas, como é impossível de ver numa grande cidade, é uma das mais belas (talvez mesmo a mais bela) das recompensas da noite; mais talvez do que a garrafa (com tampa) precisamente colocada de pé dentro de uma cavidade entre dois blocos de pedra, do que o longilíneo peixe que ficou ali ao nosso lado alguns minutos, do que o cavaco que pachorrentamente passeava ao lado.

Sem comentários: