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29 de junho de 2004

A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA #9

Depois de algumas semanas em que a fachada esteve em obras, agora a fachada do "antigo" Jardim Cinema, na avenida Álvares Cabral, a meio caminho entre o largo do Rato e o jardim da Estrela, está finalmente de cara lavada, embora eu não saiba muito bem por obra e graça de quem. E quando digo a fachada do Jardim Cinema, não é só a fachada do que é hoje essencialmente um estúdio de televisão — é também a fachada de todo o prédio onde ele se insere, completada pelo Monumental Salão de Jogos e pela respectiva tabacaria. Está tudo resplandecentemente claro, o velho friso emoldurando a parede "cega" que encima a antiga porta de entrada do cinema recuperou a sua precisão apolínea neo-clássica, devolvendo à arquitectura do edifício a definição que esteve obscurecida durante muito tempo.

O interior, infelizmente, é que já há vinte anos deixou de ser um cinema, depois de ter durante muito tempo sido esse clássico da sala de bairro que era o Jardim Cinema e, durante menos de uma década, uma salinha de estreia do grupo Lusomundo chamada Monte Carlo, para onde eram desviadas estreias de segunda e terceira linha a fazer a semana da praxe. Depois disso, foi o Jardim Cinema Loucuras, uma das "event discos" da moda a meio da década de 80, antes de se tornar em estúdio de produção televisiva (onde ainda hoje decorrem, creio, os programas da manhã e da tarde da SIC), destino curiosamente partilhado por outras salas "de bairro" como o Europa, em Campo de Ourique (propriedade da RTP, embora hoje inactivo), ou o Berna, a meio caminho entre o Campo Pequeno e a Praça de Espanha (onde a TVI esteve durante muito tempo).

Não acredito que muita gente tenha saudades do velho Jardim Cinema ou sequer da derivação Monte Carlo; e, no fundo, é compreensível; nem todas as salas de cinema de Lisboa se alojaram de igual modo na memória colectiva dos cinéfilos lisboetas.

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