Sesimbra: Cabo Afonso, sábado 12 de Junho, 11h14: 11.9m, 51min, 16º C
A grande pedra que se ergue dos dez até aos cinco metros de profundidade no Cabo Afonso é uma profusão de vida subaquática — grandes algas laminárias aqui e ali, gorgónias, anémonas, peixes grandes e pequenos, um choco que passeia calmamente aqui, um polvozinho pachorrento escondido por trás de um coralzinho cor de ferrugem. Que pena que a água de visibilidade transparente ao alcance da mão estivesse com tanta suspensão, transformando-se numa enevoada sopa verde a partir dos cinco metros — nada de grave, há sempre alguma coisa a ver mesmo aqui ao lado.
Gosto sobremaneira destes mergulhinhos medianamente baixos, em zonas efervescentes de vida, em dias cálidos com pouca corrente e a água agradavelmente refrescante. Com direito a bom humor à ida e à vinda, sobretudo quando, no regresso, ajudamos (ou melhor, o Pedro ajuda) um dos pescadores domingueiros que, vá-se lá saber como, descem aquelas íngremes muralhas da pedra que saem da baía de Sesimbra a recuperar a cana de pesca que deixou cair a fraca profundidade.
Gosto destes mergulhinhos porque são uma possível definição de paz, de bem-estar — um bem-estar benevolente, quase budista, em que todas as coisas têm uma lógica, um sentido, uma razão de ser e o equilíbrio natural é mantido sem esforço. Anti-stress. Puro. Sem corantes nem conservantes, nem estimulantes artificiais. O mundo, lá fora, suspende a existência durante estes 50 minutos; é por dias como este que o mergulho se entranha cá dentro e se torna num vício bom.
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