Há um grupinho de miúdos — nove, dez anos — com quem me cruzo por vezes no balneário do ginásio quando eles saem do judo ou do que quer que seja que eles fazem. Nunca percebo se eles tomam realmente banho depois do exercício.
Hoje, estão todos de t-shirt azul-bebé igual. Um deles corre de um lado para o outro do ginásio, descalço, apenas com as cuecas por baixo da t-shirt, pedindo aos amigos que vão falar com o Vítor porque ele assim não vai falar com o Vítor.
Outro brinca com o secador de cabelo suspenso frente ao espelho numa das colunas entre os bancos corridos de madeira, mete-se com um miúdo de óculos, mais alto, que não está vestido de modo igual. Ambos lutam pela posse do secador e acabam numa breve luta. O mais baixo repete incessantemente "és tão mau, caixa d'óculos". O mais alto acaba por se afastar, com um rosto dorido.
Outro ainda esconde as cuecas de um colega, ri-se sem parar, ele e outro que assistiu a tudo.
Mais ao lado, um avô insiste com o neto recém-saído do judo para se despachar, mas ele leva o seu tempo a limpar-se em frente ao espelho, enquanto explica ao avô que trouxe um papel para ele assinar agora e entregar ao professor antes de saírem. O avô, cansado, diz que não assina sem ler e pergunta onde está o papel. O neto diz que está ali debaixo, o avô olha para o quimono de judo atirado num monte para cima do banco, diz-lhe que está-se mesmo a ver que o papel já está todo amachucado. O neto diz-lhe que não, que o guardou debaixo do saco para não se sujar. O avô puxa dos óculos, pega no papel e lê-o atentamente.
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