Não, a ressaca não é do álcool ingerido - é da chegada madrugadora da empregada de serviço doméstico, que hoje bem deu jeito (mesmo tendo chegado mais cedo). (E esta avalanche de posts nada tem a ver com a ressaca - apenas com o slow-motion da internet que os servidores acusaram durante praticamente todo o dia.)
Mas não é só. Ao longo das últimas semanas, quase todos os amigos com quem almoço/janto/converso desabafam o cansaço, a neura, a vontade de mudar de vida que Portugal hoje lhes inspira, a pescadinha de rabo na boca em que se encontram prisioneiros: querem mudar porque as coisas não estão bem, mas como as coisas não estão bem não podem mudar apesar de quererem. Mudar de emprego, mudar de vida, até mudar de país.
Recordo-me de uma cena bastante divertida, mas profundamente séria, de "A Melhor Juventude", quando Nicola, um dos dois irmãos centrais ao filme, faz o seu primeiro exame de medicina, nos idos dos anos 60, e o professor que o examina lhe dá nota máxima e lhe pergunta o que quer ele fazer do canudo que está a tirar. Nicola responde-lhe que não sabe ainda a especialidade que pensa seguir, e o professor apenas lhe diz que, seja o que for que ele escolha, o melhor que tem a fazer é fugir de Itália, sob pena de ficar prisioneiro de um país sem futuro condenado à inacção e ao compadrio - um país de dinossáurios à espera da extinção. Então porque não vai o professor embora?, pergunta-lhe Nicola; "porque sou um dos dinossáurios", responde-lhe o professor.
Portugal está um bocado assim: um país paralisado pela tarefa hercúlea de ter que dar a volta por cima, quando a única coisa que sabemos fazer é rastejar muito quietinhos por baixo a ver se ninguém dá por nós. Um país em loop de feedback à espera que alguém se lembre de desligar o amplificador ou fazer reboot ao sistema operativo - porque nós não sabemos (não queremos saber?) fazê-lo.
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