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25 de março de 2004

A DEMOCRACIA (AFORISMOS)

Para citar o poeta Godinho, a democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros - só assim se explica que a democrática decisão espanhola de correr com o PP seja hoje vista por muitos observadores, daqueles que procuram encontrar no momento o seu significado último e definitivo para registar na história, como uma vitória do terrorismo e do medo.

É uma opinião que se tem vindo a cimentar e que as revistas internacionais desta semana não desmentem, embora procurem de algum modo contrabalançar a definição redutora. Mas o facto é que as lições do 11 de Março e das eleições espanholas ainda estão longe de estarem aprendidas ou sequer apreendidas: só o tempo (aquela coisa que cada vez menos se tem) permitirá compreender o seu verdadeiro significado, para Espanha primeiro, para a Europa em seguida, para o mundo em geral.

A verdadeira pergunta é: teria o PP espanhol ganho as eleições se não tivesse insistido em inculpar a ETA? Ou: os atentados do 11 de Março, sem as acusações à ETA, teriam bastado (horrível palavra usada neste contexto, eu sei) por si só para eleger o PSOE? Ou, no fundo: se a democracia é a expressão do povo, e o povo se exprimiu democraticamente, será que o povo está do lado dos terroristas por ter votado contra o PP?

Ou, mais fundo ainda: a democracia acabou apenas de confirmar, do modo mais transparente possível, que não passa de um sistema falsamente democrático, porque sujeito à pressão de um número infinito de factores que influenciam o resultado. A democracia é, em suma, humana e, por isso, falível. Talvez por isso mesmo ainda não se tenha arranjado melhor.

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