Belíssima, e reveladora, entrevista de Fanny Ardant a Ghislain Loustalot na Première francesa de Janeiro - uma conversa com tanto de íntimo como de perigosamente exposto, onde se revela o actor como um ser eminentemente solitário, buscando nos outros algo - talvez uma paz? - que lhe permita viver consigo próprio sem dores nem problemas.
Por vezes, quando penso na "volta" que tantas vezes apregôo querer dar à minha vida, digo: gostaria de tentar ser actor. Porque equivale a ser outra(s) pessoa(s), perder-se noutra identidade, noutra existência nos antípodas da nossa. Pura ilusão: todo esse fascínio, toda essa apetência esconde-se no distanciamento entre o pensar e o agir, entre o sonhar e o ser. Os desejos deixam de o ser quando os concretizamos - de fantasmas e anseios passam a rotinas, a quotidianos, desfazem-se da sua carga mágica. Vai um passo grande entre o desejo e o trabalho que ele implica. E já não sei se ainda tenho em mim a energia necessária para fingir ser outro.
E, contudo... Uma vez, no segundo ano da faculdade, o desafio da professora de Língua Inglesa foi colocar-nos face à aula, a testar os nossos dotes de inglês oral através de um jogo teatral em que deveríamos preparar as alegações de um advogado de defesa. Tive um imenso prazer no jogo até que, a meio, compreendi que tinha construído toda a argumentação sobre castelos de areia e que não me seria possível levar a coisa a bom porto. Confrontei-me com as minhas limitações perfeccionistas; e, face a elas, fiz aquilo que sempre faço.
Concedi-lhes vitória e retirei-me, braços baixos, fechando atrás de mim a porta. Nunca mais consegui ter prazer a ver filmes de tribunal.
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