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21 de janeiro de 2004

A GEOGRAFIA DA SOLIDÃO

Já ouvi várias pessoas reagirem com estranheza ao sub-título português que, por tecnicismos legais, a distribuidora nacional foi forçada a arranjar para "Lost in Translation", de Sofia Coppola (estreia amanhã): "O Amor é um Lugar Estranho". E, confesso-vos, apesar da minha estranheza inicial penso que a frase é, de modo convenientemente oblíquo, perfeitamente apropriada ao filme.

O que Sofia Coppola desenha com uma infinita delicadeza é uma espécie de geografia emocional da solidão, focada nos "outros lugares" onde não pertencemos e onde, talvez num esforço desesperado, procuramos alguma coisa ou alguém a que nos agarrar, sem saber muito bem onde essa necessidade quase impulsiva de não estarmos sozinhos nos pode levar. Que o amor - mesmo que impossível - surja num desses momentos em que a sensibilidade está mais aguda, mais receptiva, não deveria ser surpresa para todos aqueles que já se deixaram arrebatar por ele.

E, de facto, o amor é um lugar estranho; um sítio onde as regras lineares da lógica pragmática nem sempre exercem a sua benévola ditadura e onde, para o bem e para o mal, não temos nada a que nos agarrar a não ser o outro.

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