Peter Gabriel, velho, gordo, cansado, mas capaz de arrancar "Here Comes the Flood" lá do fundo da alma (na abertura do DVD "Growing Up Live", Warner Music Vision 2003), capaz de sustentar duas horas e meia de um concerto fisicamente exigente sem nunca ceder. É um daqueles momentos que se guardam na memória. Outros que se devem ao mesmo P.G.: "It Is Accomplished", a fechar "A Última Tentação de Cristo" de Martin Scorsese; ouvir "Blood of Eden" na imponderabilidade azul da viagem aérea de "Até ao Fim do Mundo" de Wim Wenders; descobrir "Wallflower" nos headphones da minha aparelhagem, ainda em casa dos meus pais, há muitos anos atrás (como é que ninguém nunca descobriu esta canção?); a primeira vez que ouvi "Plays Live", numa cassete mal gravada, e fiquei siderado com as imagens que se abriam à minha frente; o crescendo xamânico de "In Your Eyes" (a felicidade existe); a catarse abnegada de "Biko"; a pungência triste do último e tão mal-amado "Up"; as minhas longas conversas com o João Gobern a propósito daquele que era (ainda será?) um dos nossos gurus em comum, a par de Lloyd Cole; acima de tudo, a surdina oceânica e turbulenta e contudo esperançosa de "Secret World", sobre os universos que se escondem dentro de cada um de nós. Gabriel está lá sempre, teima em não se ir embora. O meu mundo secreto passa por ele, sempre.
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