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13 de dezembro de 2005

POBRE HOMEM

Algumas coisas houve que me fizeram imensa confusão em todo este triste episódio do ex-combatente que se atirou a Mário Soares em Barcelos no domingo. Toda a gente foi lesta em condenar, com inteira razão, a lamentável agressão ao candidato, o comportamento menos digno do homem — mas passou quase despercebido o facto de Mário Soares, ou alguém da sua "entourage", ter tratado o homem logo a seguir, com uma condescendência que me pareceu quase chocante, de "atrasado mental", "é um pobre homem" (não percebi a quem os gritos de populares femininas de "fascista, fascista" eram dirigidos, mas presumo que ao agressor). Depois, o bruá mediático que se gerou à volta do episódio quase obscureceu que, em períodos bem mais duros da história portuguesa, Mário Soares se aguentou à bronca em situações bem piores do que esta — e, contudo, quem visse as reportagens pensaria (como eu a princípio pensei) que o candidato teria sido ameaçado com uma arma ou agredido selvaticamente (em vez disso, foi apenas um murro no braço). Finalmente, a condenação quase unânime da acção do homem relegou-o para um papel quase de "maluquinho de serviço" — talvez por ele ter um exemplar do jornal "O Crime" nas mãos, ninguém se interessou em saber quem era o agressor, o que o levava a protestar daquela maneira contra Mário Soares. O episódio serviu apenas para unir todos os candidatos e para elevar o perfil do candidato — para quem, a julgar pelas sondagens, a atenção não podia ter surgido em melhor altura. Mas não consigo deixar de pensar que havia aqui uma história humana, daquelas que os noticiários tanto gostam de explorar e que, desta vez, não exploraram.

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