Pesquisa personalizada

18 de julho de 2004

POLAROID: PRAIA DO GUINCHO

O menino terá três, quatro anos; brinca sózinho, de sandálias calçadas e T-shirt vestida para proteger do sol, sob o olhar embevecido da mãe que está de bikini debaixo do chapéu de so, na tira da areia que o separa do declive rochoso que leva aos balneários para surfistas embutidos perto da estalagem do Muxaxo. A certa altura, trava-se de amizade com um menino mais novo que ele, o que cria uma cena digna de uma tragédia grega quando os pais do outro menino vêm buscá-lo para irem comer. Nos cinco minutos seguintes, o outro menino, chamado Guilherme, recusa-se teimosamente a ir comer para continuar a brincar com o menino, que a mãe chama Diogo, muito embora os pais insistam teimosamente que o menino não se vai embora e também vai papar. O chavascal feito pela conversa dos pais é maior do que a birra das crianças. Alguns minutos mais tarde, já com o Guilherme & cª ausentes a almoçar, chega o pai do Diogo com a prancha de surf e, depois de despir o fato de borracha, leva o Diogo e a mãe para comer num dos bares de terraço.

Não faço ideia como terá ficado a história das brincadeiras entre o Guilherme e o Diogo porque entretanto chega um grupo espanhol mais ruidoso do que seria possível imaginar, composto por dois pais de trinta e muitos e quatro filhos na casa dos dez anos (onde estariam as mães?). Em vez de se sentarem na areia dourada, preferem sentar-se no declive rochoso, e mantêm-se vestidos e calçados, à excepção de dois dos rapazes, que ficam só de calções e correm para o mar com uma prancha de bodyboard. Durante os vinte minutos seguintes os dois rapazes espanhóis que ficam conversam ruidosamente, queixam-se da areia, comem baguetes que trouxeram de uma loja de fast food, discutem os estados da matéria, enquanto o pai grita "José Maria" para aqui e "Felix" para ali, para delícia de um casal deitado ao meu lado que contempla toda a pantomima com francos sorrisos de alegria. Quando saio da praia eles ainda para ali estão a fazer um chavascal impressionante num castelhano perfeito.

Sem comentários: