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3 de abril de 2004

UMA GOTA

eu sinto os teus passos
na escuridão
pressinto o teu corpo no ar
aqui
e vou
como se o mundo todo fosse
sugado para dentro de ti
e não houvesse nada a fazer
senão deixar-me ir

pressinto os teus gestos
quando não estás
procuro os teus sonhos perdidos
e hoje mais que qualquer outra noite
há qualquer coisa que me fere
e que me faz querer tanto ter-te aqui

não importa se às vezes tudo é breve como um sopro
não importa se for
uma gota só
de loucura
faço oscilar o teu mundo
e desfaço a fronteira
entre a lua e o sol

se o gesto cair assim
despedaçado
se eu não souber recolher
a dor
se te esperar a céu aberto onde se esconde
o que tu és que eu também sou
é que hoje mais que qualquer outra noite
há qualquer coisa que me fere
e que me faz querer tanto ter-te aqui

não importa se às vezes tudo é breve como um sopro
não importa se for
uma gota só
de loucura
faço oscilar o teu mundo
e desfaço a fronteira
entre a lua e o sol


- Mafalda Veiga

(para todos os/as João na minha vida; porque há noites em que a solidão fere como um bisturi que nos atravessa o corpo, cirurgicamente apontado aos sítios onde a dor é mais intensa, e quanto mais me esquivo dele mais ele acerta no alvo. E, porque nessas noites, a música da Mafalda é um abrigo momentâneo e fugaz.)

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